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Epílogo bônus de "A coroa"

NOTA DA EQUIPE: Em uma edição exclusiva para a livraria Barnes & Noble, o livro A coroa veio com material extra. Como algumas pessoas que adquiriram o livro postaram fotos do material escrito na internet, nós o traduzimos. Sendo assim, não temos nenhum direito sobre o conteúdo que está aqui, exceto pela sua tradução.



A COROA: EPÍLOGO BÔNUS

SEIS ANOS DEPOIS


— Eady, você pode me ajudar por favor? — Josie me estendeu o alfinete e a faixa. Dava para ver que ela tentava esconder como estava nervosa.


— Claro.


— Se esse vestido manchar de sangue, juro que...


— Não tem nada com que se preocupar — garanti. — Você está em excelentes mãos. Agora, olhe para mim e respire.


O salão estava abarrotado de pessoas, mas todos já pareciam estar em clima de festa. A pobre Josie estava dando o seu melhor só para terminar de se vestir. Puxei a faixa azul — um símbolo de seu status quase real — apertada em torno do decote coração de seu vestido e a prendi no lugar, alisando-a em volta do corpete para que caísse em seu quadril sem fazer nenhuma sujeira.



— Aí está. Nada de sangue. Nem mesmo uma gota de suor. — Fiquei atrás dela, segurando seus ombros e observando-a no espelho. — Você dá uma linda noiva.


Ela fez que sim com a cabeça, os lábios pressionados.


— Ainda bem que pareço perfeita por fora, porque por dentro me sinto uma bagunça.


Eu ri.


— Você e todas as outras noivas da história. Eu quis sair correndo na direção do Eikko até o altar, estava tão pronta para ser a esposa dele. Mas só de pensar em passar mesmo pela cerimônia e todos os votos... — Balancei minha cabeça.


— Eu me lembro. Nunca tinha visto ninguém vomitar com tamanha elegância.


— Ei — disse, apontando o dedo para seu reflexo. — Era para nós nunca mais falarmos nisso.


Com essa, finalmente um sorriso apareceu em seu rosto, e decidi que, se tivesse que passar o resto do dia fazendo piada das minhas muitas derrapadas só para acalmar os nervos dela, faria isso.


— Vamos entrar no carro em quinze minutos — lembrei-a. — Deixe-me ir buscar nossa florista e checar os rapazes e já estaremos prontos para ir.


Josie assentiu, começando algum tipo de exercício de respiração. Acenei para Shannon.


— Você é a dama de honra dela. Você precisa mantê-la calma.


— Pode deixar.


Desapareci no corredor, apreciando o ar fresco. Com todos os vários familiares, as madrinhas e os amigos, aquele salão estava cheio demais. Mas o que eu poderia dizer? O casamento de Josie estava quase tão agitado quanto o meu fora.


Todos os salões do andar de baixo estavam sendo usados com algum propósito, hoje. Refeições em um, algumas fotografias no outro. Nós até transformamos um deles em um berçário temporário só para manter nossa princesinha perto de todo mundo. Mas, ao virar o corredor, vi que o ele não foi necessário.


Kerttu girava e girava pelo corredor, rodeada de admiradores, e sorri, observando à distância. Eikko estava sentado chão, com o paletó jogado de lado, e aplaudia enquanto meus pais assistiam do corredor. Osten já fora derrotado pela sobrinha e estava comicamente apoiado em um cotovelo, balançando a cabeça para ela.


— É lindo, sötsi — Eikko disse.


— Esse é o melhor vestido de todos! Posso usá-lo todos os dias?


— Pode — ele respondeu. — Até para dormir, se quiser.


Revirei meus olhos. Que puxa-saco.


— Querida, esse vestido é tão estufado que você vai sair rolando da cama.


Desci até o salão, e ela deu meia volta e esticou os braços para mim.


— Mamãe, mamãe!


Ajoelhei-me para abraçá-la.


— Você está maravilhosa, Kerttu. Estão todos prontos?


— Eu joguei todas as minhas pétalas no tio Osten.


Dei uma espiada e ele olhou para mim como se aquela tivesse sido uma batalha muito séria. Parecia que Kerttu tinha um pouco de cada um dos meus irmãos. Ela era encantadora como Ahren, um prodígio como Kaden e tão levada quanto Osten, de modo que nunca sabíamos que aspecto dela teríamos em momentos específicos. Mas, é claro, ela era preciosa demais para ser censurada, mesmo quando recebíamos um mau comportamento em vez de doçura.


Eu ri.


— Boa menina.


Ela se aninhou em mim, colocando as mãos contra minha barriga, um novo hábito que eu era incapaz de romper.


— Olá, bebê. Você já é uma menina?


— Awn, meu amor, eu já te disse. Vai demorar um tempo até sabermos. — Dei leves batidinhas em seu cabelo, tentando não bagunçá-lo. — E ele pode já ser um garoto.


— Tente ser uma garota — ela disse colada em meu vestido, encolhendo as mãos em forma de concha para garantir que suas palavras fossem ouvidas.


— Como está se sentindo, Majestade? — Eikko brincou, beijando minha testa.


— Estou ótima. A noiva está um pouco nervosa.


Ele deu de ombros.


— Acho que é normal. Se eu bem me lembro, você estava ainda pior quando nos casamos. Você não estava...?


— Por que ninguém consegue deixar isso de lado? — Balancei minha cabeça para ele, mas ele apenas ria. — Vamos, Kerttu. Vamos ver a tia Josie. Aposto que você vai animá-la.


— Eu animo todo mundo.


— Reúna os rapazes — instruí Eikko. Ele me encarou por um momento, parecendo inquieto.


— Claro. — E saiu sorrindo. Me perguntei se ele estava se lembrando do nosso casamento, pensando no que estava por vir ou simplesmente avaliando sobre como eu estava deslumbrante, uma distração que ele confessara sofrer várias vezes ao dia.


— Vem, bebê. — Kerttu colocou as mãos em minha cintura, ficando o mais perto possível do futuro irmão ou irmã.


O público ainda não sabia, e eu mal tinha barriga para mostrar. Esperava que alguns babados bem colocados ajudassem a esconder a verdade por um pouco mais de tempo. Meu medo era ter cometido um erro ao contar a Kerttu. Eu certamente não queria que ela espalhasse a notícia hoje. Josie realmente merecia ter um dia maravilhoso com toda a atenção para si.


— Kerttu! — Neena chamou ao voltarmos para dentro do salão. Olhei para Josie e a vi virando uma taça de champanhe. Esperava que isso a acalmasse. — Você está tão linda. Está animada?


— O papai disse que posso usar meu vestido todos os dias!


Todos ao alcance de sua voz riram.


— Não estou surpresa — Neena respondeu antes de se virar para mim. — Entrei em contato com a igreja e os convidados já começaram a chegar. O salão principal está arrumado para a recepção e tudo que temos que fazer agora, na verdade, é esperar pelo casamento.


— Perfeito. Eikko está reunindo os garotos e minha mãe e meu pai já estão no salão, então acho que já podemos ir. Isto é, se ela estiver pronta. — Apontei com a cabeça para Josie.


— Eu realmente pensei que este dia seria o ponto alto da vida dela. Mas ela parece estar mais nervosa que animada.


Estreitei os olhos em sua direção e a verdade me esmagou. Na verdade, era bem simples.


— Vou falar com ela. Certifique-se de que os rapazes estão entrando no carro e estarei logo atrás de você.


Me movi pelo salão, distribuindo os buquês e verificando se todos os detalhes estavam arrumados. O decoro exigia que eu não fizesse parte do verdadeiro grupo de madrinhas, mas pelo menos ficar perto delas significava cuidar de coisas que os outros não perceberiam.


Após ajeitar o laço do vestido de Kerttu pela quinta e — assim esperava — última vez, uma criada colocou a cabeça entre a porta.


— Está na hora, Majestade.


— Obrigada — disse e virei para Josie. — Pronta?


Josie congelou.


— Sim. Tudo bem.


Mas seus olhos tremiam levemente e me perguntei se ela sequer conseguiria chegar à porta da frente.


No amplo foyer, todos já estavam alinhados enquanto Kerttu dançava em círculos ao redor da festa. Ela tinha se saído tão bem quando treinamos, e esperava que passasse pela cerimônia sem rodopiar pelo altar. Comecei a ter minhas dúvidas.


— Tudo bem — disse para Josie. — Está na hora de ir.


Ela encarou as grandes portas abertas, os carros esperando na entrada dos carros. Havia apenas um leve ruído do vento sobre as árvores... o dia perfeito para um casamento.


— Preciso de um minuto.


— Josie.


Ela colocou uma mão em torno da barriga.


— Só um minuto.


Coloquei-a de pé, segurando seus ombros.


— Ei. Eu entendo. Mesmo.


— Eu o amo. Então por que estou tremendo?


— Porque é assustador receber tudo o que sempre quis.


Seus olhos encontraram os meus. Ela fez que sim.


— Mas você não precisa se preocupar. É só uma caminhada até o altar. E quando você chegar lá, Kaden vai segurar sua mão, vocês vão dizer umas palavras, coisas em que já pensou um milhão de vezes. Depois você vai receber uma coroa, mas é basicamente ficar lá e ser bonita, e você já está maravilhosa, então será só mais um acessório. — Dei de ombros. — É fácil, de verdade.


Ela me observou, o peito se movendo regularmente enquanto se esforçava para desacelerar a respiração.


— Fácil — repetiu. — Caminhar, algumas palavras, algumas joias.


— Exatamente. E então finalmente vou poder te chamar de minha irmã.


Ela sorriu.


— Você também pode me chamar de princesa Josephine Schreave.


— É, mas eu provavelmente vou ficar com “ei, você” — brinquei.


Não mereci sua risada, mas valeu totalmente a pena.


— Obrigada.


— Não há de quê. Está pronta agora?


Ela assentiu.


— Acho que sim.


Após respirar fundo, ela deu dois passos rápidos para frente e me abraçou.


— Estão tão feliz por você, Josie.


— Obrigada. Não acredito que isso está...


Sua voz sumiu rapidamente e olhei para trás para ver o que havia a feito parar. Uma gafe terrível foi cometida. Eu pensei que os rapazes já estavam a caminho da igreja, mas eles estavam descendo para o salão com Neena. Eikko, Kile, e, o pior de todos, o próprio noivo.


— Josie — arfei —, eu sinto muito! Eu pensei que...


Mas ela não escutou nada. Seus olhos estavam focados em Kaden, que estava encantado do outro lado do salão. Eu o vi piscar repetidamente, tentando controlar as lágrimas. Josie me soltou e andou lentamente na direção de seu noivo, e ele colocou suas mãos no peito, balançando a cabeça como se não pudesse acreditar em como ela estava deslumbrante.


Um momento depois todos já estavam se misturando. Kile e sua esposa, Alice, afagavam as costas de Josie, enquanto minha mãe e a madame Marlee estavam afastando lágrimas dos olhos. Camille correu para Ahren e Shannon estava fazendo contato visual com o primo que Camille trouxera. Meu pai estava com um joelho no chão, tentando controlar Kerttu, enquanto Osten parecia estar se escondendo dela. Senti que meu coração poderia explodir de felicidade.


— Nós vamos nos atrasar — Neena sussurrou em meu ouvido.


Olhei para a cena feliz, tantas pessoas que eu amava em um só lugar, sorrindo, chorando, simplesmente respirando, e dei de ombros.


— Todos os outros podem esperar.


Ela riu.


— Vamos simplesmente dizer que os convidados estavam muito adiantados.


— Gosto de como você pensa.


Ela balançou a cabeça.


— Se alguém tivesse me dito dez anos atrás como a vida teria se desenrolado, acho que não teria sido capaz de imaginar nada assim.


— Não — disse, observando minha família, pensando em como ela estava crescendo rapidamente. Flagrei Eikko me observando, seu rosto lindo e completamente calmo, me olhando como se eu fosse a razão para o sol nascer. — Mas é muito melhor do que qualquer coisa que eu poderia ter sonhado.


— Tudo bem, tudo bem — minha mãe disse acima do barulho. — Nós realmente temos que ir.

Kaden beijou a bochecha de Josie.


— Vejo você daqui a pouco, amor.


Ela fez que sim com a cabeça, seu humor totalmente mudado. E eu conseguia ver... ali estava a nova princesa.


Nós nos organizamos, nos preparando para o resto do dia. Kaden fez um breve aceno ao entrar no carro com os outros, e as damas checavam mais uma vez suas roupas, esperando nossa vez. Eu escutava todos aqueles sons do meu mundo: a risada da minha mãe, a respiração de Josie e a cantoria de Kerttu. Absorvi todos eles.


E a vida, como sempre faz, seguiu em frente.


Tradução de Camila Lima.

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