A RAINHA // Prímeiros Capítulos
Há algumas semanas a Kiera lançou uma campanha e liberou os três primeiros capítulos de A Rainha, o conto que fala sobre a Seleção da rainha Amberly. A Rainha será publicado em 2 de Dezembro desse ano, em formato digital.
Enquanto esse dia não chega, você pode conferir os primeiros capítulos, que está traduzido, logo abaixo:
Capítulo 1
Duas semanas aqui dentro, e essa era a minha quarta dor de cabeça. Como eu explicaria isso ao príncipe? Como se já não fosse ruim o suficiente que quase toda garota que saía era uma Dois. Como se minhas criadas já não estivessem trabalhando como escravas para restaurar minhas mãos envelhecidas. Em algum ponto eu teria que contar a ele sobre as ondas de enjoo que colidiam sem aviso. Bem, se ele alguma vez me notasse.
A Rainha Abby se sentou no final oposto do Salão das Mulheres, quase como se ela estivesse propositalmente se separando das garotas. Pelo leve calafrio que percorreu seus ombros, tive a sensação de que não éramos exatamente bem-vindas em seu ponto de vista.
Ela estendeu a mão a uma criada, que por sua vez apresentou as unhas com perfeição. Mas, mesmo no meio de ser mimada, a rainha parecia irritada. Eu não entendi, mas tentei não julgar. Talvez um canto de meu coração também fosse endurecido caso eu perdesse um marido tão jovem. Ela teve sorte por Porter Schreave, o antigo marido de sua prima, ter tomado-a para si, permitindo-a manter a coroa.
Eu examinei o Salão, olhando para as outras garotas. Gillian era uma Quatro como eu, porém uma adequada. Ambos os seus pais eram chefes de cozinha e, baseada em suas descrições de nossas refeições, eu sentia que ela tomaria o mesmo caminho. Leigh e Madison estavam estudando para serem vegetarianas e visitavam os estábulos com a maior frequência com que eram permitidas.
Sabia que Nova era uma atriz e tinha uma multidão de fãs desejando-a para o trono. Uma era uma ginasta e sua pequena estrutura era graciosa até mesmo quando parada. Muitas das Dois aqui ainda não escolheram uma carreira. Imaginei que se alguém pagasse minhas contas, me alimentasse e mantivesse um telhado sobre minha cabeça, eu também não me importaria.
Eu esfreguei minhas têmporas doloridas e senti a pele rachada e os calos arrastarem por minha testa. Eu parei e olhei para minhas mão maltratadas.
Ele nunca iria me querer.
Fechando meus olhos, eu visualizei a primeira vez que encontrei o Príncipe Clarkson. Eu podia lembrar da sensação de suas mãos quando cumprimentou as minhas. Graças a Deus as minhas criadas tinham encontrado luvas de renda para que eu vestisse ou eu poderia ter sido enviada para casa ali mesmo. Ele era composto, educado e inteligente. Todas as coisas que um príncipe devia ser.
Eu tinha percebido ao longo das últimas duas semanas que ele não sorriu muito. Parecia que ele tinha medo de ser julgado por encontrar humor nas coisas. Mas, meu Deus, como seus olhos brilharam quando ele sorrira. O cabelo loiro-sujo, os olhos de um azul desbotado, o modo como ele se portava com tal força... Ele era perfeito.
Infelizmente, eu não era. Entretanto, devia haver algum jeito de fazer o Príncipe Clarkson gostar de mim.
Querida Adele,
Segurei a caneta no ar por um minuto, sabendo que isso era inútil. Ainda.
Estou me estabelecendo muito bem no palácio. Ele é lindo. É maior e melhor do que bonito, mas eu não sei se tenho as palavras certas para descrevê-lo. O calor de Angeles é um pouco diferente do de casa, também, mas, da mesma forma, eu não sei como explicar isso. Não seria maravilhoso se você pudesse vir para ver e cheirar tudo por si própria? E, sim, há muito para cheirar. Por mais que a concorrência efetiva avance, eu ainda não passei um mísero segundo sozinha com o príncipe.
Minha cabeça latejava. Fechei os olhos, respirando lentamente. E ordenei a mim mesma para manter o foco.
Eu tenho certeza de que você já viu na televisão que o Príncipe Clarkson enviou oito garotas para casa, todas elas eram Quatro, Cinco e aquela Seis. Há outras duas Quatro que permanecem e várias Três. Eu me pergunto se esperam que ele escolha uma Dois. Acho que faria sentido, mas é de partir meu coração.
Poderia fazer um favor para mim? Pergunte a mamãe e ao papai se há talvez algum primo ou outro alguém na família que é das castas mais altas? Eu devia ter perguntado antes de partir. Acho que uma informação assim seria útil.
Eu estava ficando com aquela náusea que algumas vezes vem com as dores de cabeça.
Tenho que me apressar. Muitas coisas acontecendo. Enviarei outra carta em breve.
Te amo para sempre,
Amberly.
Eu me senti fraca. Dobrei minha carta e selei-a no envelope já endereçado. Esfreguei minhas têmporas novamente, esperando que a leve pressão me desse algum alívio, embora nunca funcionasse.
— Está tudo bem, Amberly? — Danica perguntou.
— Ah, sim — menti. — Provavelmente estou apenas cansada ou algo assim. Talvez eu devesse dar uma volta. Tentar me movimentar e tudo mais.
Sorri para Danica e Madeline e deixei o Salão das Mulheres, tomando meu caminho para o banheiro. Um pouco de água gelada eu meu rosto destruiria mina maquiagem, mas isso poderia me fazer bem. Antes que eu chegasse lá, a tontura passou por mim outra vez. Pousando em um daqueles sofás que corriam pelos corredores, coloquei minha cabeça contra a parede, tentando melhorar.
Isso não fazia sentido. Todos sabiam que o ar e a água das partes do sul de Illéa eram ruins. Até mesmo os Dois tinham problemas de saúde, às vezes. Isso — escapar para o ar puro, boa comida e o impecável cuidado do palácio — não deveria estar me ajudando?
Eu estava para perder cada oportunidade de deixar uma impressão no Príncipe Clarkson se isso continuasse. E se eu não conseguisse no jogo de croquete dessa tarde? Poderia sentir meus sonhos escorregando por meus dedos. Eu poderia muito bem abraçar a derrota agora. Doeria menos.
— O que está fazendo?
Eu me afastei da parede para ver o Príncipe Clarkson olhando para mim.
— Nada, Vossa Alteza.
— Você não está bem?
— Não, claro que não — insisti, empurrando a mim mesma para meus pés. Mas esse foi um erro. Minhas pernas fraquejaram e eu caí no chão.
— Senhorita? — perguntou, vindo para o meu lado.
— Me desculpe — sussurrei. — Isso é humilhante.
Ele me levou para os seus braços.
— Feche seus olhos se está enjoada. Nós estamos indo para a ala hospitalar.
Que história engraçada para contar aos filhos: o rei uma vez me carregou pelo palácio como se eu não pesasse nada. Eu gostei disso aqui, nos braços dele. Sempre me perguntei como seria a sensação deles.
— Ah, meu Deus — alguém gritou. Abri meus olhos para ver uma enfermeira.
— Acho que ela está enjoada ou algo do tipo — Clarkson disse. — Ela não parece ferida.
— Coloque-a aqui, Vossa Alteza.
O Príncipe Clarkson me colocou em uma das camas dali, cuidadosamente resvalando seus braços. Esperava que ele pudesse ver a gratidão em meus olhos.
Eu presumi que ele sairia imediatamente, mas ele permaneceu conforme a enfermeira checava meu pulso.
— Você comeu hoje, querida? Bebeu muito?
— Nós acabamos de tomar o café da manhã — ele respondeu por mim.
— Você se sente mal, afinal?
— Não. Bem, sim. O que quero dizer é que isso não é nada. — Esperava que se fizesse isso parecer algo sem consequências, eu poderia conseguir ir ao jogo de croquete, mais tarde.
Ela fez uma cara de severa, mas doce ao mesmo tempo.
— Eu discordo, você teve que ser carregada até aqui.
— Isso acontece o tempo todo — soltei em frustração.
— O que quer dizer? — a enfermeira pressionou.
Eu não planejava confessar isso. Suspirei, tentando pensar em como explicar. Agora o príncipe veria como a vida em Hondurágua tem me afetado.
— Eu tenho muitas dores de cabeça. E algumas vezes elas me deixam tonta. — Eu engoli, preocupada com o que o príncipe pensaria. — Em casa eu vou dormir horas antes de meus irmãos e isso me ajuda a passar pelo dia de trabalho. Tem sido mais difícil descansar aqui.
— Arã. Algo além das dores de cabeça e do cansaço?
— Não, senhora.
Clarkson passou perto de mim. Esperava que ele não conseguisse escutar meu coração acelerar.
— Há quanto tempo você tem tido esse problema?
Dei de ombros.
— Alguns anos, talvez mais. Agora é meio que normal.
A enfermeira parecia preocupada.
— Há algum histórico disso em sua família?
Eu parei antes de responder.
— Não exatamente. Entretanto, o nariz de minha irmã sangra algumas vezes.
— Você simplesmente tem uma família doentia? — Clarkson perguntou, uma pontada de desgosto em sua voz.
— Não — respondi, esperando tanto para me defender quanto para me envergonhar ao explicar. — Eu moro em Hondurágua.
Ele arqueou as sobrancelhas em compreensão.
— Ah.
Não era segredo o quão poluído era o sul. O ar era ruim. A água era ruim. Havia muitas crianças deformadas, mulheres estéreis e pessoas jovens morrendo. Quando os rebeldes vieram, deixaram para trás um rastro de pichação, exigindo saber por que o palácio não tinha consertado isso. Era um milagre minha família inteira não ser doente como eu era. Ou que eu não estivesse pior.
Respirei profundamente. O que no mundo eu estava fazendo aqui? Eu passara as semanas que antecederam a Seleção construindo este conto de fadas em minha cabeça. Mas nenhuma quantidade de desejo ou sonho me faria valer a pena para um homem tal como Clarkson.
Eu me virei, não querendo que ele me visse chorar.
— Poderia sair, por favor?
Houve alguns segundos de silêncio, então eu escutei os passos dele conforme ele se afastava. No instante que seus passos desapareceram, eu desmoronei.
— Acalme-se agora, querida, está tudo bem — a enfermeira disse, me confortando. Eu estava com o coração tão partido que abracei-a tão apertado quanto fazia com minha mãe e irmãos. — É muito estresse, enfrentar uma competição como essa e o Príncipe Clarkson entende isso. Vou pedir ao médico que te prescreva algo para as dores de cabeça e vai ajudar.
— Eu sou apaixonada por ele desde que tinha sete anos. Cantava parabéns baixinho para ele todos os anos em meu travesseiro para que assim minha irmã não risse de mim ao se lembrar. Quando aprendi a escrever letra cursiva eu praticava escrevendo nossos nomes juntos. E a primeira vez que ele fala comigo de verdade ele pergunta se eu sou doente — parei, deixando o choro vir. — Não sou boa o suficiente.
A enfermeira não tentou discutir comigo. Ela apenas me deixou chorar, manchando todo o seu uniforme com a minha maquiagem.
Estava tão envergonhada. Clarkson nunca me veria como algo além da garota que o mandou para fora. Eu tinha certeza que minhas chances de ganhar seu coração tinham passado. Que utilidade ele poderia ter para mim, agora?
Capítulo 2
No fim das contas, o croquete só permitia um máximo de seis jogadores, o que estava bom para mim. Eu me sentei e assisti, tentando entender as regras para o caso de jogar uma vez, embora eu tivesse a sensação de que nos entediaríamos antes que todos tivessem uma chance.
— Nossa, olhe os braços dele — Maureen suspirou. Ela não estava falando comigo, mas eu olhei mesmo assim. Clarkson tinha tirado seu paletó e empurrado as mangas para cima. Ele era muito, muito bonito.
— O que eu faço para ele colocar esses braços em volta de mim? — Keller brincou. — Não é como se você pudesse fingir um machucado no croquete.
As garotas ao seu redor riram e Clarkson olhou na direção delas, a ponta de um sorriso em seus lábios. Isso sempre vinha dessa forma, só um traço. Pensando nisso, eu nunca havia escutado sua risada. Talvez uma bolha inesperada de uma simples risada, mas não houve nada que o deixasse tão feliz a ponto de explodir em uma gargalhada.
Mesmo assim, a sombra de um sorriso em seu rosto foi o suficiente para me paralisar. Eu estava bem em não ver mais que isso.
Os times se moveram ao longo do campo e eu estava dolorosamente consciente quando o príncipe ficou perto de mim. Assim que uma garota alinhou um tiro bastante hábil, ele arremessou seus olhos sobre mim, não movendo a cabeça. Eu olhei para ele e ele voltou sua atenção para o jogo. Algumas garotas vibraram e ele caminhou para mais perto.
— Há uma mesa de refrescos logo ali — ele disse calmamente, ainda não fazendo contato visual. — Talvez você devesse beber um pouco de água.
— Eu estou bem.
— Bravo, Clementine! — ele gritou para uma garota que tinha destruído outro tiro com sucesso. — Mesmo assim. Desidratação pode fazer a dor de cabeça piorar. Pode ser bom para você.
Seus olhos baixaram para encontrarem os meu e havia algo lá. Não o amor, nem mesmo a afeição, mas algo em um ou dois graus acima de uma simples preocupação.
Sabendo que eu era um desastre quando se tratava de recusá-lo, eu fiquem em pé e caminhei para a mesa. Comecei a colocar água para mim mesma, mas uma criada tomou o jarro de minha mão.
— Me desculpe — murmurei. — Ainda estou me acostumando a isso.
Ela sorriu.
— Não é nada. Pegue uma fruta. É muito refrescante em um dia como esse.
Eu fiquei perto da mesa, comendo uvas com um garfo pequeno. Eu precisaria contar isso a Adele: talheres para frutas.
Clarkson olhou algumas vezes para o meu rosto, aparente para assegurar que eu estava fazendo o que ele sugerira. Eu não conseguiria dizer se era a comida ou a atenção que iluminaram meu humor.
Eu não tive a chance de participar do jogo.
Passaram três dias antes que Clarkson falasse comigo outra vez.
O jantar estava acabando. O rei tinha se retirado sem cerimônias e a rainha tinha esvaziado quase completamente uma garrafa de vinho sozinha. Algumas garotas começaram a fazer sua reverência e saírem, não querendo ver a rainha enquanto ela desleixadamente se apoiava em seu braço. Eu estava sozinha em minha mesa, determinada a terminar cada pedaço restante do meu bolo de chocolate.
— Como você está hoje, Amberly?
Minha cabeça subiu em um disparo. Clarkson tinha andado sem que eu notasse. Agradeci a Deus por ele ter me pegado enquanto eu mastigava.
— Muito bem, e você?
— Excelente, obrigado.
Houve um breve silêncio enquanto eu esperava que ele dissesse algo mais. Ou era eu quem devia falar? Havia regras sobre quem falava primeiro?
— Eu estava vendo como seu cabelo é grande — ele comentou.
— Oh — eu ri um pouco ao olhar para baixo. Meu cabelo estava próximo de minha cintura, esses dias. Embora isto fosse mais para enfeitar, ele me dava uma variedade de opções para prendê-lo. Isso era essencial para um trabalhador rural. — Sim. Vem a calhar para fazer tranças, o que é bom em casa.
— Você não acha que talvez esteja longo demais?
— Hmm. Eu não sei, Vossa Alteza. — Corri meus dedos sobre ele. Meu cabelo estava limpo e bem cuidado. Será que eu parecia desleixada sem que percebesse?
Ele inclinou sua cabeça.
— Tem uma cor muito bonita. Acho que ele poderia ser mais legal se fosse mais curto — ele deu de ombros e começou a se afastar. — Só uma observação — disse sobre seu ombro.
Eu fiquei sentada por um momento, considerando. Depois, abandonando meu bolo, fui para meu quarto. Minhas criadas estavam lá, esperando como sempre.
— Martha, você se sentiria confortável em cortar meu cabelo?
— É claro, senhorita. Um dedo ou dois das pontas seria saudável — respondeu, andando para o banheiro.
— Não — eu me opus. — Preciso dele curto.
Ela parou.
— Quão curto?
— Bem... Ainda abaixo de meus ombros, mas acima da base de meus omoplatas.
— Isso é mais de trinta centímetros, senhorita!
— Eu sei. Mas consegue fazer isso? E ainda ser capaz de deixá-lo bonito? — Eu puxei os fios grossos acima de meus ombros, imaginando-o cortado.
— Claro, senhorita. Mas por que você faria isso?
Eu passei em sua frente, indo para o banheiro.
— Acho que é hora para uma mudança.
Minhas criadas me ajudaram a desabotoar meu vestido e envolveram uma toalha em meus ombros. Fechei meus olhos assim que começou, não completamente certa do que estava fazendo.
Clarkson dissera que que ficaria mais legal se usasse o cabelo mais curto e Martha asseguraria que ficasse grande o suficiente para ainda prendê-lo. Eu não perderia nada fazendo isso.
Não ousei sequer dar uma espiada até que estivesse terminado. Eu ouvi o barulho da tesoura metálica repetidas vezes. Eu podia sentir quando seus recortes ficaram mais precisos, como se ela estivesse tornando tudo uniforme. Ela terminou pouco tempo depois.
— O que acha, senhorita? — perguntou hesitantemente.
Abri meus olhos. Primeiro, não pude nem notar a diferença. Mas eu virei levemente minha cabeça e um pedaço de cabelo caiu sobre meu ombro. Puxei uma mecha do outro lado e era como se me rosto estivesse cercado por uma moldura de mogno.
Ele estava certo.
— Eu amei, Martha! — eu arquejei, tocando todo o meu cabelo.
— Faz você parecer muito mais madura — Cindly acrescentou. Eu assenti.
— Faz, não é?
— Espera, espera, espera — Emon gritou, correndo para o porta-joias. Ela pescou por muitas peças, procurando algo em particular. Finalmente, ela voltou com um colar que tinha brilhosas e grandes pedras vermelhas. Eu ainda não tinha sido corajosa o suficiente para usá-lo.
Eu levantei minha cabeça, esperando que ela quisesse que eu experimentasse, mas ela tinha outras ideias. Gentilmente, ela colocou o colar sobre minha cabeça. Era tão ornamentado que era muito parecido com uma coroa.
Minhas criadas arfaram, mas eu parei de respirar completamente.
Eu tinha passado muitos anos imaginando o Príncipe Clarkson como meu marido, mas em nem uma vez eu o considerara o homem que poderia fazer de mim uma princesa. Pela primeira vez na vida, eu percebi que eu queria aquilo, também. Eu não tinha muitos contatos ou esbanjava riqueza, mas senti que seria um papel que eu não apenas me encaixaria, mas também me sobressairia. Eu sempre acreditara que seria uma boa parceira para Clarkson, no entanto, talvez eu pudesse ser uma boa parceira para a monarquia também.
Eu olhei para mim mesma no espelho, e junto de imaginar Schreave alinhavado ao final de meu nome, coloquei princesa logo antes. Naquele instante, eu queria ele, a coroa — cada mísero pedaço disso — como nada antes.
Capítulo 3
Tive Martha para encontrar para mim uma tiara de joias para que eu usasse de manhã e deixei meu cabelo completamente solto. Eu nunca estivera tão animada para o café da manhã. Achava que parecia positivamente bonita e não podia esperar para ver se Clarkson se sentiria do mesmo jeito.
Se eu fosse inteligente, eu teria chegado lá mais cedo; mas como fosse, eu caminhei com outras várias garotas, perdendo completamente a chance de ganhar a atenção do príncipe. Eu corria meus olhos para a ponta da mesa a cada poucos segundos, porém Clarkson estava focado em sua refeição, obedientemente cortando seus waffles e presunto, ocasionalmente olhando para alguns papeis ao seu lado. Seu pai bebeu café na maior parte, apenas dando uma mordida quando ele tomou fôlego do documento que estava lendo. Presumi que ele e Clarkson estavam estudando a mesma coisa e que para os dois começarem tão cedo significava que eles teriam um dia muito ocupado. A rainha não estava em lugar algum para ser vista e, enquanto a palavra ressaca nunca fosse dita em voz alta, eu poderia praticamente ouvi-la nos pensamentos de todos.
Uma vez que o café da manhã terminou, Clarkson saiu com o rei, distante para fazer o quer que fosse, que fazia nosso país funcionar.
Eu suspirei. Talvez à noite.
O Salão das Mulheres estava quieto, hoje. Nós tínhamos esgotado todas as conversas para conhecermos umas às outras e nos acostumado a passar algum tempo de nossos dias juntas. Eu me sentei com Madeline e Bianca, como quase sempre. Banca vinha de uma das províncias vizinhas de Hondurágua e nos conhecemos no voo. O quarto de Madeline era perto do meu e sua criada havia batido em minha porta no primeiro dia, para pedir linha às minhas criadas. Talvez meia hora depois, Madeline viera nos agradecer e nós temos sido amigáveis desde sempre.
O Salão das Mulheres era exclusivo desde o começo. Nós costumamos ser separadas em grupos na vida cotidiana — Três por aqui, Cinco para lá — então talvez fosse natural que isso acontecesse no palácio também. E enquanto não nos dividíamos exclusivamente por castas, não podia deixar de desejar que não fizéssemos isso. Nós não nos tornamos iguais por vir para cá, pelo menos enquanto a competição durava? Nós não estávamos passando pelas mesmas coisas?
Embora, no momento, parecesse que estávamos passando por um monte de nada. Eu queria que algo acontecesse só para termos o que conversar sobre.
— Alguma notícia de casa? — perguntei, tentando iniciar uma conversa.
Bianca olhou para cima.
— Minha mãe escreveu ontem e disse que Hendly ficou noiva. Consegue acreditar nisso. Ela foi embora, o que, há uma semana?
Madeline animou-se.
— De que casta? Ela está escalando?
— Oh, sim — ela acendeu em animação. — Um Dois! Quero dizer, isso te dá esperança. Eu era uma Três antes de sair, mas a ideia de casar com um ator ao invés de médicos velhos parece bom.
Madeline riu e assentiu em concordância. Eu não tinha tanta certeza.
— Ela o conhecia? Antes de partir para a Seleção, quero dizer?
Bianca inclinou sua cabeça para um lado; como se eu estivesse perguntado algo ridículo.
— Isso parece improvável. Ela era uma Cinco; ele é um Dois.
— Bem, eu acho que ela disse que sua família fazia música, então talvez ela tivesse feito algo para ele uma vez — Madeline propôs.
— É um bom ponto — Bianca adicionou. — Então talvez eles não fossem completamente estranhos.
— Hum — murmurei.
— Dor de cotovelo? — Bianca perguntou. Eu sorri.
— Não. Se Hendly está feliz, também fico. É um pouco estranho, porém, se casar com alguém que você nem mesmo conhece.
Houve uma pausa antes de Madeline falar.
— E nós não estamos meio que fazendo a mesma coisa?
— Não! — exclamei. — O príncipe não é um desconhecido.
— Verdade? — Madeline desafiou. — Então, por favor, me diga tudo o que sabe sobre ele, porque eu sinto que não sei de nada.
— Na verdade... Eu também. — Bianca confessou.
Eu aspirei para começar uma longa lista de fatos sobre Clarkson... Mas havia muito a dizer.
— Não estou dizendo que sei cada segredo sobre ele, mas não é como se ele fosse um cara velho qualquer andando na rua. Nós crescemos com ele, o ouvimos falar no Jornal Oficial e temos visto seu rosto centenas de vezes. Você pode não saber todos os detalhes, mas eu tenho uma clara impressão dele. Você não tem?
Madeline sorriu.
— Acho que você está certa. Não é como se nós caminhássemos através da porta sem saber o nome dele.
— Exatamente.
A criada estava tão quieta que não percebi que ela tinha se aproximado até que ela estava em meu ouvido.
— Você é requerida por um momento, senhorita.
Olhei para ela, confusa. Não tinha feito nada de errado. Virei para as garotas e dei de ombros antes de ficar em pé para segui-la porta afora.
No corredor, ele meramente gesticulou e eu virei para ver o Príncipe Clarkson. Ele estava em pé com aquele quase sorriso em seus lábios e algo em sua mão.
— Eu estava apenas deixando um pacote na sala de correio e o carteiro tinha algo para você — ele disse, segurando um envelope entre dois dedos. — Eu pensei que você poderia querer isso imediatamente.
Aproximei-me o mais rápido que pude sem parecer grosseira e estendi a mão para ele. Seu sorriso se tornou diabólico quando ele abruptamente prendeu seus braços bem acima, no ar.
Eu ri, pulando e tentando desesperadamente capturá-lo.
— Não é justo!
— Venha agora.
Eu poderia pular muito bem, embora não em saltos. E mesmo usando-os, eu ainda era mais baixa do que ele. Contudo, não me importei em falhar, porque em algum lugar nas minhas tristes tentativas, eu senti um braço me envolver pela cintura.
Finalmente, ele me deu minha carta. Como suspeitava, era de Adele. Tantas pequenas e boas coisas estavam se amontoando em meu dia.
— Você cortou o cabelo.
Eu tirei meus olhos da carta.
— Cortei. — Peguei uma parte e trouxe para a frente de meus ombros. — Você gostou?
Havia algo em seus olhos — não exatamente uma travessura, nem um segredo.
— Sim. Muito. — Com isso, ele deu a volta e andou pelo corredor sem sequer olhar para trás.
Era verdade que eu tinha uma ideia de quem ele era. Ainda, quanto mais eu o via no dia a dia, eu percebia que havia muito mais dele do que o que eu vira no Jornal Oficial. Aquele conhecimento não parecia assustador, no entanto.
Pelo contrário, ele era um mistério. Eu estava empolgada para desvendá-lo.
Sorri e rasguei o lacre da carta ali mesmo no corredor, movendo debaixo de uma janela pelo bem da luz.
Doce, doce Amberly,
Sinto tanto a sua falta que dói. Dói quase tanto quanto dói quando eu penso sobre todas as roupas lindas que você está vestindo e a comida que você deve estar provando. Não consigo nem imaginar o que você está cheirando! Queria que pudesse.
Mamãe chora quase toda vez que te vê na TV. Você parece uma Um! Se eu já não soubesse as castas de todas as garotas, eu nunca suporia que qualquer uma de vocês não fosse da realeza. Não é engraçado? Se alguém quisesse, eles poderiam simplesmente fingir que esses números não existem. Então de novo, não fazem por você de um jeito, Pequena Senhorita Três.
Falando nisso, eu queria que houvesse algum Dois perdido há tempos na família para o seu bem, mas você já sabe que não há. Perguntei, e nós temos sido Quatro desde o início e é tudo o que há. As únicas adições notáveis não são as boas. Não quero nem te contar isso e estou esperando que ninguém se depare com essa carta antes de você, mas a prima Romina está grávida.
Aparentemente ela se apaixonou por um Seis que dirige o caminhão de entrega da Rakes. Eles vão se casar por volta do final de semana, o que faz todos suspirarem de alívio. O pai (por que não consigo lembrar seu nome? Ah!) recusa a ter qualquer criança sua feito um Oito, e é mais do que alguns homens mais velhos do que ele fariam. Então, me desculpe se você perderá o casamento, mas estamos felizes por Romina.
De qualquer forma, essa é a família que você tem direito agora. Um bando de fazendeiros e alguns infratores da lei. Apenas seja a linda e amável garota que todos sabemos que você é, e o príncipe inevitavelmente se apaixonará por você não importando a sua casta.
Nós te amamos. Escreva de novo. Sinto falta de escutar sua voz. Vocês faz as coisas parecerem mais em paz por aqui, e não acho que eu tenha notado isso até que você não estivesse aqui para fazer isso.
Adeus por agora, Princesa Amberly. Por favor, lembre-se de nós, pessoas pequenas, quando pegar sua coroa.